Vinte e cinco atrás, quando comecei a servir na equipe litúrgica da minha comunidade era comum chegarmos na igreja sem ter estudado previamente as leituras do dia e ainda escolhermos as músicas enquanto a missa acontecia.
Hoje enxergo que a desorganização ia muito além. Sempre sumiam cabos e microfones, utensílios de cozinha (depois de um retiro de fim de semana), as chaves das salas de catequese etc. Tudo era cuidado por todos e, consequentemente, ninguém cuidava de nada. E quando uma pessoa buscava ordenar a bagunça, logo ouvia: “Você tá pensando que aqui é uma empresa?”
Em 2001, com quase 50 anos de fundação, a Arquidiocese de Londrina tinha 70 paróquias, dois seminários, uma casa de encontros e uma livraria, mas até então não possuía uma contabilidade consolidada e em conformidade com a legislação fiscal brasileira.
Graças à abertura do Conselho Econômico Arquidiocesano à participação de leigos católicos, deu-se início a um moroso e árduo trabalho de implantação de um sistema único e legal de administração. Naquele momento foi imprescindível a colaboração de profissionais qualificados que, mesmo sem remuneração, não mediram esforços nem sacrifícios para modernizar a administração arquidiocesana. Isso também é discipulado e missão.
De lá para cá, muita coisa mudou – e para melhor – não apenas na Arquidiocese de Londrina. O tema Gestão Eclesial começou a ser debatido nos diferentes círculos católicos pelo país e, principalmente, mais leigos começaram a participar da administração paroquial em suas comunidades.
É claro que nem sempre atuaremos em nossas paróquias cumprindo atividades semelhantes àquelas desempenhadas no âmbito profissional. Porém, é benéfico que um cristão administrador ou contador, por exemplo, colabore com seus conhecimentos e experiências na administração paroquial ou diocesana. Ou, então, profissionais de marketing e comunicação social ajudem a formular um projeto de comunicação para a paróquia e a promover suas atividades e serviços em arquivos impressos, sites e mídias sociais.
Jesus, no mundo atual, daria trabalho a essa gente e faria o melhor proveito possível de todos os meios que pudessem potencializar ainda mais o anúncio do Evangelho.
O que ainda falta a várias dioceses, congregações, paróquias e entidades mantidas pela Igreja, para que deem um salto qualitativo em sua organização administrativa, pastoral, social e missionária, não são pessoas com boa vontade e capacitação. Precisam, sim, de uma melhor acolhida, do voto de confiança e da abertura da parte de padres, bispos, superiores religiosos e outros responsáveis para que os fiéis passem a colaborar.
E também há uma segunda barreira: a tentação do voluntariado cristão que move inúmeros leigos. A pessoa faz o que quer, quando e como pode, muitas vezes de qualquer jeito, deixando a desejar quanto às suas obrigações, e no momento em que alguém pede contas é capaz de dizer “Eu sou voluntário e é desta forma que eu faço as coisas; se quiser bem, se não quiser procure outro”.
Uma vez assumida uma responsabilidade na Igreja, a sua tarefa tem de ser priorizada do início ao fim, porque o trabalho desenvolvido é fruto do compromisso com Deus e com a comunidade, e eles merecem o melhor que se possa dar.
E é importante lembrar que não há mérito algum em fazer a coisa certa com qualidade e eficiência, nem tornamos Deus nosso devedor ao trabalharmos pelo bem da comunidade. Cumprir bem uma tarefa simplesmente denota consciência, responsabilidade, respeito, seriedade e competência da parte de quem coloca os talentos a serviço (Mt 25,14-30).
A sua paróquia não é uma empresa, mas também precisa das boas práticas administrativas e de gestão de pessoas que são pregadas aonde você ganha o seu pão de cada dia. Aliás, só assim ela permanece viva e atuante.
E pode ter uma certeza: quanto mais organizada a sua comunidade for, mais pessoas estarão engajadas nas pastorais, movimentos e equipes de serviço que existem. Lembre-se apenas que trabalhar para que isso aconteça não é uma responsabilidade restrita ao padre ou ao coordenador do CPP e sim de todos nós batizados.