No dia 10/03 comemoramos o Dia do Sogro e confesso que até pouco tempo atrás não tinha a mínima ideia de que alguém havia criado uma data específica para homenagear este querido ente de nossas famílias. E mais ainda, que também há um dia dedicado à sogra (28/04), piadas à parte.
No tocante ao mundo corporativo, há uma belíssima passagem narrada no capítulo 18 do livro do Êxodo em que o escritor bíblico conta como o patriarca Moisés foi orientado pelo sogro Jetro durante uma espécie de consultoria.
Após a fuga do Egito e passar a pé enxuto pelo Mar Vermelho com todo o povo recém-libertado, Moisés acampou no deserto e logo depois recebeu a visita de sua mulher e filhos levados por Jetro. Cumprimentaram-se amavelmente, relataram um ao outro tudo o que havia acontecido durante o tempo em que permaneceram distantes e depois foram descansar.
No dia seguinte, contudo, o sogro já percebeu que havia algo de errado na liderança de Moisés quando viu uma imensa fila de pessoas aguardando horas até serem atendidas por ele. “O que é que você está fazendo com o povo? Por que se senta sozinho, enquanto eles o procuram de manhã até a noite?”, perguntou. Mas, certo de seu comportamento, Moisés respondeu que este era o seu trabalho, afinal todos esperavam que ele resolvesse as pendências com base nas leis de Deus.
Parecia um argumento sólido, no entanto Jetro reforçou: “O que você está fazendo não é certo. Está matando a si mesmo e ao povo que o acompanha, já que é uma tarefa muito pesada e você não pode cumpri-la sozinho”. E o aconselhou: “Represente o povo diante de Deus, ensine a ele as leis, faça com que conheça o caminho a seguir e as ações que deve praticar”. Na linguagem empresarial, atue estrategicamente.
E a seguir recomendou a criação de um grupo tático-operacional composto por
homens capazes, de bom caráter e tementes a Deus, completando: “Estabeleça-os como chefes de mil, de cem, de cinquenta e de dez. Os assuntos graves, eles trarão a você; os assuntos simples, eles próprios resolverão. Desse modo repartirão a tarefa e você poderá realizar a sua parte”. Ou seja, receitou a descentralização.
Mas Jetro estava consciente de que o genro não deixaria o comportamento paternalista de lado a fim de assumir um novo modelo de gestão sem um argumento sólido. Por isto, foi persuasivo: “Se você fizer assim e Deus lhe der as instruções, poderá suportar a tarefa e o povo voltará para casa em paz”.
No versículo 24 a história diz que Moisés aceitou o conselho do sogro e fez exatamente aquilo que ele havia dito, porém não pense que foi uma tarefa fácil. Conforme a passagem de Números 26,51 pouco mais de 601 mil pessoas estavam acampadas e nesta conta só entravam os homens adultos, desconsiderando mulheres e crianças. Portanto, fazendo uma conta aproximada, ao todo eram necessários nada menos que 76.800 líderes para sustentar a estrutura organizacional recomendada por Jetro.
A ironia é que hoje em dia muitos consideram difícil formar um simples substituto para os seus cargos, mesmo contando com uma série de pessoas pós-graduadas na empresa, e Moisés construiu um time e tanto 3300 anos atrás só com iletrados.
O que mais me encanta é o fato de que este líder bíblico aprendeu de verdade a lição recebida. Em Deuteronômio 1,9-15 ele já prega a terceiros o conselho do sogro e explica em detalhes como este modelo de gestão facilitará o trabalho de quem se encontra à frente.
As empresas bem-sucedidas têm pessoas como Jetro em seus quadros, que atuam como mentores das grandes mudanças e são hábeis ao comunicarem ideias a quem tem o poder de executá-las. E elas também atraem profissionais como Moisés, que mesmo nos altos postos de comando, abrem-se ao novo e conservam a humildade de escutar quem não está infectado pelo modus operandi.